Uma homenagem à mulher-mãe!

"E num dia de bendita magia, numa explosão de luz e flor, num parto sadio e sem dor, é capaz, bem capaz, que uma mulher da minha terra consiga parir a paz. Benditas mulheres." Rose Busko

Transformação pela Humanização

Pediatra formada pela Unicamp com especialização em Neonatologia, a Dra Ana Paula Caldas começou sua trajetória em direção a humanização após o nascimento de seu primeiro filho. Hoje o parto domiciliar é sua grande paixão, tanto que sua caçula nasceu em casa. Conheça mais sobre essa bela trajetória na entrevista concedida ao Movimento de Apoio a Humanização do Parto Sorocaba (publicada originalmente no site do MAHPS)






















MAHPS – Em que momento da sua vida você mudou seu modelo de assistência aos RN?
ANA PAULA – Depois que meu filho mais velho , Miguel, hoje com 11 anos, nasceu através de uma cesariana, comecei a pesquisar e estudar o modelo de atendimento obstétrico. Ao perceber o absurdo do nosso sistema obstétrico, foi natural também perceber o atendimento neonatal arcaico da maioria dos hospitais, que submete o recém nascido a dezenas de procedimentos desnecessários e separa mães e filhos justamente no momento em que eles mais precisam estar juntos .

MAHPS – Quais as principais dificuldades que um pediatra encontra para prestar uma assistência humanizada, frente aos protocolos hospitalares?
ANA PAULA – As dificuldades são decorrentes da desinformação e preconceito dos profissionais. A maioria dos protocolos hospitalares é desatualizada, não obedece às evidências científicas atuais.

MAHPS – Como você conseguiu mudar isso?
ANA PAULA – Em muitos hospitais, eu simplesmente faço o meu atendimento individualizado, e os outros profissionais me aturam. O que faz diferença, neste caso, é a atitude da família, em não aceitar qualquer conduta ou procedimento sem questionar. Por causa dessas famílias questionadoras, um hospital muito tradicional de campinas acabou por permitir minha entrada lá, não por acreditar no meu trabalho, mas por não querer lidar com este tipo de paciente. O curioso é que quanto mais estudamos as evidências científicas mais comprovamos que as práticas menos intervencionistas são as mais adequadas, e mesmo assim ainda encontramos, na maioria dos hospitais, práticas completamente ultrapassadas e até perigosas, como a aspiração do bebê, sendo realizadas rotineiramente .

MAHPS – Como foi pra você, começar a atender partos domiciliares?
ANA PAULA – Parto domiciliar é a minha grande paixão. Eu comecei a atender depois que minha filha Lis nasceu em casa, há 7 anos, por um pedido dos médicos que começavam a atender neste modelo. Meu sonho é um dia, atender apenas partos domiciliares, embora a presença de um Neonatologista seja absolutamente desnecessária na grande maioria dos casos.

MAHPS – Quais eram os seus medos? Eles ainda existem?
ANA PAULA – Meu maior medo era, e é, transferência para o hospital. Além de lidar com o problema da criança, a angústia dos pais, ainda tenho que lidar com a hostilidade dos colegas. Felizmente isso só aconteceu 2 vezes em 7 anos. 

MAHPS – Como você é vista por seus colegas?
ANA PAULA – A maioria me acha uma louca hippie..rsrs.

MAHPS – Mães e bebês morrem. Todos sabemos que isso pode acontecer. Mas se este resultado acontece quando um profissional humanizado está envolvido, os próprios colegas e a instituição se posicionam contra, ao invés de apoiar. Você está enfrentando um caso desses. Gostaria de falar sobre o assunto? Em que isso vai afetar a sua conduta?
ANA PAULA – Eu tenho lidado com serenidade com isso, até porque eu sempre soube que era uma questão de tempo até que acontecesse, já que bebês morrem em todas as situações. Infelizmente, o meu conselho de classe está mais preocupado com os menos de 1% de partos domiciliares do estado do que com as centenas de internações diárias nas UTIS neonatais motivadas pelas cesarianas desnecessárias. Por enquanto, isso não afetou minha conduta, porque meu atendimento sempre foi baseado nas mais recentes evidências científicas.

MAHPS – Ana, qual é a sua dica para nós enquanto Movimento Social, de como podemos provocar a mudança no modelo de assistência ao RN em nossa cidade? Como podemos mostrar este modelo que tantas mulheres estão à procura e não encontram ainda em muitos lugares?
ANA PAULA – A mudança tem que vir das mulheres, enquanto mães e consumidoras. É vital que a gestante se informe sobre o atendimento do recém nascido e possa escolher aquilo que é ou não adequado para sua família. Eu costumo dizer que hoje em dia as pessoas pesquisam e se informam mais para comprar um eletrodoméstico do que para escolher o tipo de parto. Na era da internet e da informação, só é enganado quem quer.

Um comentário: