Uma homenagem à mulher-mãe!

"E num dia de bendita magia, numa explosão de luz e flor, num parto sadio e sem dor, é capaz, bem capaz, que uma mulher da minha terra consiga parir a paz. Benditas mulheres." Rose Busko

Relato de parto sem censura

Desde o início, tudo com relação a gravidez é antagônico. 
Suspeita de gravidez. 
Ai caramba! Não posso estar grávida. 
Resultado negativo. 
Ah, poxa! Não to grávida... 
Suspeita de gravidez. Não posso estar grávida. Será que to? 
Resultado positivo. 
To grávida! Ai meu Deus! To grávida! E agora...?

Mesmo antes de engravidar, não queria saber de cirurgia pra ter o bebê! E não demorou muito pra eu não querer nem hospital! 

Minha experiência como fotógrafa de parto me permitiu ver vários tipos de nascimento, fora todos os relatos lidos e ouvidos e eu não queria ser obrigada a passar pelos protocolos desnecessários dos hospitais...

Chegou a hora do meu pequeno Diego vir aqui pra fora. Alguns sinais durante a semana... Barriga abaixando, aquelas contrações que parecem só o bebê se esticando, pedaços do tampão saindo...

Na sexta-feira à noite as benditas doloridas! E a doula me avisa que estou nos pródromos... 

Alguém me explica porque os pródromos não são considerados trabalho de parto? Puta merda! Isso dói, incomoda, já não tem mais posição pra ficar, já não dá mais pra dormir... Pra mim, meu TP começou na sexta... 

Perturba a doula o tempo todo pelo zap. E uma das recomendações é relaxar no chuveiro. Eita técnica mais antiecológica... Mas acalma um pouquinho... 

Sábado à noite é que o TP que o povo considera começou. O pai do Diego tentava falar comigo no meio das contrações e eu já não respondia mais nada... Ele ligou pra doula, colocou ela no viva voz pra falar comigo e ela só de ouvir meus gemidos disse: to indo praí.

Doula chegou, depois uma enfermeira, depois a outra enfermeira e depois a fotógrafa. Time completo. Daí minha memória que nunca foi boa, não me permite detalhar tudo que aconteceu muito menos na ordem correta, mas foram horas e mais horas de dor. Passei por todas as posições possíveis e ficava trocando pra ver se alguma melhorava: bola, chuveiro, sofá, rede, cama, banqueta, piscina.... Nada adianta. Cansei de ler que se relaxa entre as contrações, que no meio delas não tem dor. Mentira. Dói pra carái o tempo tooooodoooo.... 

Não tinha posição que melhorasse e na hora da contratação, Piora!!!! Não deixava minha doula desgrudar de mim. Coitada. Não sei de onde ela tira força pra fazer tanta massagem e levar tanto apertão...

E já chegamos no domingo. A bolsa ainda não tinha estourado e tava dificultando a descida do moleque. Enfermeira estourou e vambora. Dor que não acaba mais. E a criança que não desce. São só alguns centímetros do final da minha barriga pro final da minha vagina. Não sei porque a demora... Tava difícil do filhote descer e pra ajudar, na hora da contração, doula e enfermeira usaram rebozo pra ajudar. Uma puxando o pano de um lado e outra puxando o pano de outro com toda força e mais uma dor insuportável.
Galera toda já tava exausta. Teve uma hora que foram todas dormir. Mas eu fiquei tensa com isso e não deixei minha doula descansar muito não... 

E a tal hora da covardia? Pra mim foi no plural. Horas de covardia. Pedi arrego por horas, acho que metade do trabalho de parto. 

Fui de um em um fazendo a cara do gatinho do Sherek e dizendo: "me leva pro hospital?" Doula, uma enfermeira, outra enfermeira, companheiro... 

E ninguém me levou. Ainda bem. rsrs Só não pedi pra fotógrafa... 

Os tais puxos? Não senti não. Não tinha vontade de fazer força e não sabia fazer. Fui aprender a fazer na cama com ajuda da doula e deitada era a posição que mais doía. E a força é a mesma feita quando está com prisão de ventre (na verdade, eu sempre falo que é a mesma força de cagar, mas acho que vão reclamar se eu escrever isso no meu relato de parto)... Parecia que o menino ia sair pelo buraco errado. E as hemorroidas tudo gigante. Putz!!! Depois da cama e de ter aprendido a fazer a tal da força, fui pra banqueta, apoiada na cama e aí sim o moleque começou a sair...

Foi um terror... Nenhum romantismo que eu havia lido e imaginado. Claro que assim que meu filho nasceu e veio direto pro meu colo, os gritos de "aaaaaaaaaaa" deram lugar a um "own meu bebê!"...
Saímos da banqueta e fomos pra cama, fui batizada ali mesmo com um cagadão e uma mijada. 

Pouquinho depois, de volta pra banqueta e pari a placenta. Depois que parou de pulsar, o papai cortou o cordão. 

Daí começou uma parte que eu não sabia, não tinha lido em relato nenhum, ninguém me contou e não vi fazerem nos partos que fotografei pois nessa hora estou com bebê. A enfermeira enfiou a mão lá dentro pra tirar os restos de sei lá o que e isso dói muuuuuuito. Berrei no ouvido da criança. E depois de três "mãozadas" proibi ela de enfiar de novo (o que quase me custou uma infecção pois dois dias depois, levei mais uma mãozada e ainda tinha resto lá dentro apodrecendo). 

E fiquei sabendo também que tinha tido uma laceração (além de um PC de 38, ainda veio com a mão junto). Isso foi meu maior trauma do parto, pois mesmo hoje, 2 meses após o parto, ainda não me recuperei, nem da laceração, nem das hemorróidas. 

Depois do toque, me ajudaram a tomar banho e limparam a sujeirada que eu tinha feito. 

No dia seguinte eu não estava nova não. Mal conseguia levantar de tanta dor na perna e em toda região baixa... Nada lindo, muito dolorido e quase desesperador... É uma pressão muito grande lá embaixo, parece que as vísceras todas vão sair... sentar e levantar é um terror, tossir e espirrar então, nem se fala...
Mas ainda bem que não fui pro hospital pois teria me arrependido. Tudo que planejei, pensando no melhor pro meu filho, aconteceu. Nasceu em casa, no escurinho, no calorzinho, foi logo pro peito, recebeu todo sangue do cordão, não teve todos os seus buracos invadidos por sondas, nem furado, nem esticado no primeiro minuto de vida, nem recebeu aquele colírio ardido... Nada de ir pra berçário, direto pro colinho de mamãe e papai. 

Mamãe: Larissa De Freitas CordeiroPapai: Dante GastaldoniDoula: Cátia CarvalhoEnfermeira Obstétrica: Vivianne SilvaEnfermeira Obstétrica: Jemima FortunatoFotógrafa: Julia Maria Ferreira

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