Uma homenagem à mulher-mãe!

"E num dia de bendita magia, numa explosão de luz e flor, num parto sadio e sem dor, é capaz, bem capaz, que uma mulher da minha terra consiga parir a paz. Benditas mulheres." Rose Busko

Dialogando sobre dor

Nosso primeiro encontro de 2017 propôs uma reflexão pra lá de importante - as dores da maternidade... e elas não são poucas.

Não é segredo que, em nossa sociedade, a dor se tornou um tabu e uma aversão. Basta observar a reação de alguém diante de um comentário seu sobre uma dor de cabeça. Ainda que você esteja visivelmente cansado e essa cefaleia seja apenas seu corpo implorando por sono, dificilmente alguém lhe dirá "porque você não vai pra casa, toma um banho morno e dorme um pouco". É bem mais provável que apenas te ofereçam um analgésico.

Primeiro porque a vida não pode parar pra você descansar - há muito o que fazer - e depois que ficar sentindo dor é tido como masoquismo.

Estamos aos poucos perdendo a habilidade e a paciência para ouvir nosso corpo e lidar com suas dores de modo curativo... a maioria não se pergunta de onde a dor vem - quer apenas se livrar dela. Mas ignorar uma dor é como ignorar um alarme de incêndio... você pode até fazer a dor calar, mas o motivo dela não. E mais cedo ou mais tarde o estrago sempre aparece.

Te surpreende saber que o parto não é, em nada, diferente?

Não... a dor do parto não é patológica. Mas fugir dela pode se tornar um problema... eu disse pode e não vai, ok? Quando falamos de vida, nunca se pode ser determinista. 

Não existem certezas. Mas também não se pode ignorar alguns fatos e é fato que a cesariana é um procedimento cirúrgico e como tal envolve riscos. É fato também que medicamentos anestésicos e analgésicos podem ter efeitos colaterais pro parto, pra você e pro seu bebê.

Mas há uma cultura de medo em torno do parir e como então enfrentar esse medo? Eu proponho uma reflexão.

Pensa nos momentos mais difíceis que você já viveu? O sofrimento que é perder um emprego depois de anos de dedicação à empresa, ou o sofrimento de ser traída ou ainda de perder uma pessoa que amamos? Só de imaginar dá um aperto no peito, né? Mas esses momentos, esse sofrimento, não tem qualquer relação com dor física. É uma questão da alma... uma dor emocional.

Bater o dedo na quina da mesinha, cair de bicicleta, levar uma pancada na cabeça... essas coisas sim geram dor física. Mas na maioria das vezes não sofremos com isso... não precisa haver impacto emocional nesse evento. 

Quer ver? 

Você já se perguntou porque beijo de mãe cura? Não? Tenta pensar naquela criança que tomou um tombo. Ela provavelmente se sente fragilizada naquele momento e a partir disso procura conforto (emocional e não físico) no colo de sua mãe. Eis que a mãe carinhosamente à acolhe, beija o machucado e oferece um abraço de acalento. Fisicamente nada mudou, mas o colo acolhedor da mãe faz o sofrimento cessar e lidar com a dor se torna possível a partir disso.

O parto é o único momento de nossas vidas em que uma dor física não envolve um evento potencialmente problemático (como um joelho ralado também não), mas um pedido de atenção e foco do corpo - seu bebê vai nascer! Cada uma de nós tem tudo que precisa para enfrentar essa dor, mas porque então pra muitas mulheres o parto é profundamente sofrido? Nem é tão difícil assim entender... basta voltar pro menino que se machucou. E se ao invés de beijar-lhe o machucado e o acolher nos braços, a mãe o colocasse deitado, examinasse o joelho e se limitasse a dizer "para de chorar, não foi nada... fica ai deitado q já já passa" e o deixasse sozinho? Não sei você, mas meu peito apertou novamente.

Eu não vou dizer que parir não dói, assim como não vou dizer que um joelho ralado não dói. E nem tampouco estou comparando os dois níveis de dor. Mas é fato que o modo como quem está cuidando de nós reage, impacta diretamente na nossa forma de lidar com aquele evento doloroso. Mas um joelho ralado a gente entende... e o parto?

Reagir com calma, acolher sem se apavorar exige que a gente entenda o que está acontecendo. Casais bem preparados vivem o parto como uma experiência e não um sofrimento. Gestantes bem acompanhadas vencem a dor e trazem seus bebês de modo saudável e fisiológico - mas é preciso muito mais do que um bom pré-natal para estar preparada.

Pense nisso, faça um curso de preparação pro parto, tenha uma doula, participe de grupos de gestantes... e qualquer que seja a sua escolha, envolva quem vai estar com você nela pra que seu parto seja pra vocês uma celebração e não um sofrimento.

Até a próxima!!

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