Uma homenagem à mulher-mãe!

"E num dia de bendita magia, numa explosão de luz e flor, num parto sadio e sem dor, é capaz, bem capaz, que uma mulher da minha terra consiga parir a paz. Benditas mulheres." Rose Busko

Adoção real por Carina Henzel

Publicado originalmente em https://www.facebook.com/cacahenzel/posts/10155352382046985

Resultado de imagem para adoçãoSegura porque eu vou largar uma bomba de verdades sobre a adoção aqui para vocês. Li um excelente texto de uma moça chamada Raquel Oliveira agora há pouco e resolvi escrever o meu. Na mesma vibe do dela, mas um pouquinho mais real ainda.

Eu sempre fui quase cruel nos meus comentários para as pessoas que falam besteira sobre adoção. Qualquer besteira. Viro bicho, fico doida e quase fora de controle. Tanto pra quem vem falar besteira pra mim por não saber nada e querer dar opinião sobre eu querer adotar, quanto para o pessoal que já está na fila e eu, sinceramente, não sei como conseguiu estar habilitado. Essa vai mais para quem quer adotar e fala uma asneira atrás da outra.

Participo ativamente de muitos grupos de apoio à adoção e já li, vi e ouvi tanta coisa que juro que tem gente que não acreditaria. Já ouvi habilitado dizendo que “não quer adotar uma criança que tenha sofrido muito”. MEU AMIGO, você acha que a criança vai pra adoção pooor que? Você assistiu muito Juno, não foi? Aqui não é Estados Unidos. Aqui a criança sofreu muito, sim. Muita fome, muito abandono, muito frio, muita dor, muita negligência, muito abuso, muita solidão, muito medo, muito pavor, muito desespero, muita falta de higiene, muita falta de estímulo, muita falta de carinho, muita falta de amor. Sofreram o horror. Sofreram intensamente. Sofreram constantemente. E as que sofreram pouco dentro dessa realidade pré-acolhimento, sofreram muito mais do que você jamais sofreu no seu mundinho cor de rosa.

Já ouvi adotantes dizendo que não leriam o histórico de seu filho ou filha. As explicações são diversas, todas rasas e todas querendo dizer a mesma coisa. Ou tem medo de enxergar o que um dia foi a realidade dessa criança. Ou porque não tem interesse mesmo. Podendo assim negar o passado, tentar apagar, fingir que não aconteceu e esperar que a criança comece do zero, agora com eles. MEU AMIGO, acorda. Você consegue fazer isso? Esquecer o passado, começar do zero quando quer? Deixar totalmente para trás os traumas e as cicatrizes? Nossa, por favor, me ensina. Não, ninguém começa do zero. Temos recomeços, mas somos forçados a conviver com dores, medos e fantasmas do passado que nos acompanham. Se você não é esse ser biônico que aperta um botão e zera o sistema, por que espera que seu filho seja? Por que o passado dele te assusta tanto assim? Te faz menos pai ou menos mãe? Por que não abraçar a história do seu filho de forma madura e justa para poder ajudar essa criança a ser mais forte e o melhor que ela pode ser?

Também já ouvi habilitados dizendo que se decepcionaram na aproximação da adoção tardia porque a criança ou adolescente não queria usar as roupas que a mãe escolhia. Ou porque não se abria e conversava com eles. Ou porque não se divertia com os primos nas festas de família. MEU AMIGO, você acha que eu na minha adolescência queria sair da frente do computador? As roupas que minha mãe escolhia para mim eram, automaticamente, feias e “nada a ver”. E não, eu não queria falar com ninguém. Porque eu era adolescente. Sentia que ninguém me entendia – a começar por mim mesma. E nunca passou pela sua cabecinha que aqueles primos e toda aquela família ainda não eram referência para a criança ou adolecente em questão? E que ele achar uma festa de família um saco é a coisa mais normal e rotineira do mundo? Para qualquer adolescente? Você não entende porque é só mais um que acha que a criança mais velha deve ser eternamente grata pela adoção. E demonstrar isso sempre. A criança deve ser um anjinho, jamais errar e sempre admirar você. Deve ver você como seu salvador, como um anjo enviado do céu, o ser santo que salvou a vida dessa criança. Você quer adotar ou fazer caridade?

Agora uma das coisas mais comuns, assustadoras e revoltantes que escuto: não quero criança negra porque ela vai sofrer preconceito. MEU AMIGO, você é racista. “Não quero criança negra porque vai se achar inferior a mim, que sou branco”. MEU AMIGO, você é racista. “Não quero criança negra porque quero que pareça comigo”. MEU AMIGO, você é racista. “Não quero criança negra porque ela vai se questionar sobre essa diferença da cor dela e da nossa”. MEU AMIGO, você é racista. Você é racista, assuma. Você é racista. Ponto.

Não entendo a idealização. Não entendo os preconceitos com seus próprios filhos. Se há preconceito, não há amor. Se há preconceito, não há preparo. Se há preconceito é porque você não considera e nunca vai considerar essa criança seu filho de verdade. Por que você quer adotar? Para ter um filho? Então você não deveria, ninguém tem um filho para si. Para ajudar uma pessoa? Então você não deveria, não é isso que você está fazendo. Para seu próprio ego e pelo seu próprio egoísmo? Então você não deveria. Você claramente não sabe o que está fazendo e está movido pelos motivos errados.

“Adotar é muita burocracia”. Não, não é. “A fila é muito longa”. Não, não é. “É muito tempo de espera”. Não, não é. “Eles dificultam muito”. Não, não dificultam. O seu preconceito, a sua falta de preparo e a sua idealização dificultam, trazem a demora, trazem a frustração, causam devoluções, traumas, caos. Aquele velho dado de que existem muito mais famílias querendo adotar do que crianças para adoção é real, sim. Mas ainda assim os abrigos estão cheios de crianças crescendo lá. Porque você é o erro matemático que faz a conta nunca fechar. As crianças reais existem. Estão lá, esperando uma família. Não se importam com sua idade, com seu passado, com suas dificuldades. Já você se importa até com a cor da pele delas. Isso não é amor. Dói, né? Sim, a verdade dói. A realidade dói. Já o amor, não. O amor cura.

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