Por Fernanda Azevedo
Ser mãe cosmopolita, cheia de
sonhos, ambições, desejos, planos e ciente de seus deveres e direitos, não é
uma tarefa fácil. Não era nos primórdios e hoje continua sendo árdua a missão
de maternar. Dura, pesada e cheia de tabus.
Mas não. Não é bem por ai!
Existem infinitas formas de
maternar. De ser. De se permitir. De se encontrar. De vivenciar as tênues
linhas que a maternidade nos entrega no parir.
Antes de parir e depois de parir,
somos confrontadas a dois tipos de contos: Sendo eles catastróficos demais ou
românticos demais.
São mães de primeira viagem,
geralmente apavoradas, que escutam horrores sobre o maternar. E pasmem, escutam
isso de outras mulheres. Pois afinal de contas suas experiências em nada se
pareceram com um conto sutil. E sim com um conto bruto, truculento e cruel
escrito pelas mil e umas formas que a violência obstétrica se desenha.
Essas mulheres e seus contos de
pânico. Fúria. Ranço. Suor. Lágrimas.
Elas existem aos montes.
Empilhadas. Machucadas. Sangrando. Chorando.
Elas estão por toda parte.
Mulheres que tiveram seus partos calados. Suas experiências dilaceradas. Seu
maternar interrompido. Roubado. Destruído.
Sim, essas mães importam!
Essas mães existem!
Essas mães possuem suas
histórias.
E precisam ser ouvidas!
E não são menos importantes que
as mães que estudam, frequentam rodas de apoio, conhecem seus direitos.
Precisamos falar sobre as
diversas realidades. Precisamos falar sobre PRIVILÉGIOS que chegam para mães
que conseguem pagar um Uber para chegar ao seu destino.
E aquelas que precisam pegar dois
ônibus, uma barca, um trem rodar a cidade hostil e violenta com seu filho no
ventre ou no colo, ou na mão.
Pegando ônibus lotado para chegar
a um espaço confortável que a acolha por algumas horas até que ela saia daquela
realidade. E volte para seu lar tendo em mente que semana que vem não vai
conseguir ir devido ao custo da passagem.
Sim, essas mães importam!
Essas mães existem!
Essas mães possuem histórias!
É preciso falar sobre seus medos.
Temores. Sobre a mudança que as abraça e não é pequena. Sobre a primeira viagem
que não é menos importante que mulheres que tem 2, 3, 4 ou mais viagens.
Para se falar em abraçar mulheres. Precisamos sim falar
sobre políticas públicas. Já que nosso corpo é político.
Precisamos falar de uma sociedade
que não acolhe a mãe no mercado de trabalho.
Que em pleno 2018 nos confrontam com
perguntas infames em entrevistas de emprego: E ai, você tem filhos?! Pretende
ter filhos? Se em caso de doença do seu filho, você faltaria ao serviço?
Numa sociedade que ainda se
importa tão pouco com aquelas que abrem suas pernas ou seus corpos para parir gerações. O que esperar
da hostilidade de uma saúde em colapso? Que ainda possuem profissionais com tão
pouca empatia para com as mães. Que normaliza falas como:
Não grita! Senão você não será
atendida!
Sim, eu sou mãe!
Sim minha viagem importa!
Mas também importa a viagem de
Francisca que mora na favela e pouco escuta falar de seus direitos.
Sim, importa a viagem de Luciana
que ainda é desencorajada pelas mulheres da sua família a ter seus filhos por
meios naturais. Afinal de contas, vai sofrer pra que se pode ter uma cesárea
eletiva. Sem se importar ou se informar sobre os riscos para sua saúde.
Sim, importa a viagem da Carolina
que está no auge da sua gravidez planejada, da sua vida estruturada, do seu
carro na garagem, do seu plano de saúde. Mas está longe de conhecer de verdade
seus direitos e do quanto saber seria importante não só para ela, mas para sua
cria. E no auge do seu privilégio, construído ou de berço, ela pode sim, ser
conduzida à permanecer na escuridão do não saber.
A viagem das mulheres não pode
ser interrompida. Banalizada. Golpeada.
Pelo medo e aflição do círculo familiar, do círculo de amigos, pelos
colegas de trabalho. Pelo desconhecimento estimulado no consultório, na
sociedade, na mídia
Sim, eu sou mãe!
Sim, minha viagem importa!
Importa a viagem de todas.
Abrace. Estimule. Encoraje uma
mulher.
Uma mãe. Uma puérpera!
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