Uma homenagem à mulher-mãe!

"E num dia de bendita magia, numa explosão de luz e flor, num parto sadio e sem dor, é capaz, bem capaz, que uma mulher da minha terra consiga parir a paz. Benditas mulheres." Rose Busko

A chegada da Nina - Por Ana Mel Castro

Minha pequena flor chegou no início da primavera. Veio abrir o mês de outubro, nosso mês, numa madrugada intensa e veloz.

Na minha experiência anterior, fui pega de surpresa por uma bolsa rompida às 36 semanas de gestação. Não tinha dado tempo de me sentir exausta de estar grávida, não tinha dado tempo de ficar ansiosa com o parto e nem muito menos de ter bolsa de maternidade pronta.

Dessa vez, bolsa de maternidade mais do que pronta um bom tempo antes. Cansaço em dia, com dores bem incômodas da reta final. Ansiedade apontando, e a tentativa de viver um dia de cada vez e entregar a Deus tudo em relação a vinda da minha menina. Quase sem querer, até as unhas eu acabei fazendo, no próprio dia, sem o menor planejamento. Fillipe conseguiu fazer uma reunião importante, que na verdade seria na sexta e ele achou prudente adiantar (mesmo sem sala disponível pra reunir mais de vinte pessoas). Tudo de encaixando perfeitamente, sem que a gente soubesse. 

Se por um lado optar por deixar que uma criança escolha a data de chegar nesse mundo nos deixa ansiosos (justo nós, essa geração extremante imediatista, deixando a vida acontecer), ela também põe cada coisa em seu lugar. Experimentar a chegada sem previsão certa de uma criança, nos relembra: não temos controle. Não sabemos de nada. Precisamos focar no aqui e agora e entregar o resto.

Quantas lições profundas! 
Taí uma bela forma de meditar: parir.

Era uma segunda feira, e fui dormir por volta de meia-noite. (Devia ter ido mais cedo, rs). Faltavam 10min pras 2h da manhã e eu tinha levantado pra fazer o primeiro xixi da madrugada. (Quem tá no fim de uma gravidez sabe que o xixi passa a ser quase que de hora em hora). Pois bem. Lá fui eu, no automático. Dei uma olhada no papel higiênico pq podia vir algo diferente. Mas não veio. Ok. Voltei pra cama, e assim que deitei senti algo escorrer. Muito pouquinho. "Fiz xixi na cama?', pensei. Haha. (Se você nunca viu um relato de parto e tá achando esse texto muito esquisito, pode ficar à vontade pra parar de ler aqui mesmo) 😄

Voltei pro banheiro, e senti algo escorrer mais. Foi então que percebi que se tratava da bolsa. (não tem cheiro, definitivamente não é xixi, e como eu já tinha passado por isso, reconheci). Ok. Respirei e pensei "tá, ela tá chegando. Que dia é hoje? Primeiro de outubro, legal.". Levantei, a água continuava caindo aos poucos e fui chamar o Lipe. "Amor ..." "Hum?" "A bolsa estourou". "Sério???" Entrei logo no chuveiro e comecei a sentir uma cólica. Em 15 minutos, a cólica já era dolorida. Ligamos pra doula (e vizinha, graças ao bom Deus!) E em menos de 10 minutos ela tava lá. 

Ainda no telefone ela me disse pra irmos direto pra maternidade. (Esse não é o usual num parto natural, a intenção é sempre passar a maior parte do trabalho de parto em casa, onde ficamos mais confortáveis). Diante dessa fala dela, percebi que realmente o processo poderia ser bem rápido. Chamamos nossa amiga querida e vizinha, Tati, pra ficar com Bento que dormia. Já tínhamos combinado isso antes. Logo ela estava aqui, e eu me vestia entre uma cólica e outra. Já eram contrações, e bem próximas. Eu respirava fundo e entrava em cada onda. Em algum momento ouvi Bento chorar, e nessa hora me preocupei um pouco. Ele notou o movimento , Lipe contou pra ele que a irmã tava vindo e claro que de madrugada as percepções são diferentes. 

Foi um pouco difícil deixá-lo. Mas eu entrei no carro e entreguei. 
Eu sabia que ele estaria bem!

A ida pra maternidade foi a parte mais difícil. Contrações num carro: Não recomendo. O caminho era super curto, mas me pareceram quilômetros sem fim. 

Ao chegar lá, uns 10 minutos depois, perto das 3h da manhã, as contrações seguiam super intensas. Meu obstetra me esperava na porta, com seu sorriso-casa. Abriu os braços pra mim e seguimos para a salinha de triagem. Lá fui examinada por ele, que contava calmamente "dilatação total". Só lembro de flashs. Minha doula me segurando firme em algumas contrações, em outras me apoiava no Lipe enquanto ela massageava minhas costas. O nome disso é privilégio, eu sei. Parir sem interrupções, sem julgamentos. Estar cercada de gente que respeita o meu corpo e simplesmente não me atrapalha. Sim, nosso corpo já sabe bem o caminho. 

A dor era intensa nessa hora. A entrega também. Lembro de dizer "estou nervosa" quando senti que havia deixado de entrar numa das ondas, e esquecido de respirar fundo. Ouvi da Cátia e do Lipe "você está indo muito bem. Deixa vir. Ela já já chega". 

A sala de parto natural estava ocupada. Fomos pro único quarto vago, e ao chegarmos lá, senti que estava muito perto da linha de chegada. Reconheci a mudança do chamado "parto ativo", para o "expulsivo". Sim, um momento muito intenso, muito forte mesmo. 

A vontade de fazer força veio com tudo, e deixei meu corpo agir. Só deixei, realmente. Mesmo com dor intensa, mergulhei. Em apenas duas contrações senti minha filha chegar nos meus braços. O relógio marcava 3h32. Como ela foi rápida! Minha guerreirinha. 

Ela chorava forte, mas nem abriu os olhos. 
Eu e Lipe cantamos juntos pra ela. 
Ficamos os três ali, imersos. 

Segurar a Nina por 1h no meu colo foi incrível. Ninguém tirou ela de mim. Procedimentos desnecessários não foram feitos. Quando o cordão parou de pulsar, Lipe o cortou. Alguns minutos depois a placenta também nasceu. Tudo estava bem. Em pausa.

Tudo era presença. 
É o milagre do nascer. 
É a potência da vida. 
É o começo da existência sendo visto como realmente é: sagrado!

Fotos 📷: @leticiamaiafotografia 💛
Ps: não temos fotos do trabalho de parto em si por motivos de "não deu tempo". 😅

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